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16 Mar 2021
Arquivo Bienal a partir do olhar dos artistas - parte 1
Confira quatro documentos que se referem a importantes nomes da arte contemporânea brasileira e mundial

O Arquivo Histórico Wanda Svevo, também conhecido como Arquivo Bienal, é um dos mais importantes repositórios documentais sobre a produção moderna e contemporânea na América Latina. Concebido em 1955 por Wanda Svevo, então Secretária Geral do Museu de Arte Moderna de São Paulo (instituição que organizou as Bienais de São Paulo até 1962), o Arquivo foi criado com o objetivo de dar suporte para a realização das Bienais. Atualmente, conta com mais de um milhão de documentos sobre cada uma de suas edições e sobre seus desdobramentos na história da arte. 

“ […] a ideia do Arquivo surgiu de um fato, ou melhor, de uma exigência muito simples: a de encontrar um precedente, uma informação a respeito de um passado artístico de um expositor. Cada exposição comporta uma papelada: catálogos, boletins, livros, fotografias, correspondência – que constitui a documentação da exposição e do artista. Fechadas as portas da exposição, esta documentação deve encontrar o lugar onde possa ainda desempenhar um papel vivificador, tornar-se útil àqueles que dela necessitem – e nos limites de seu campo – cumprir sua função”. Wanda Svevo, Diário do Povo, 18 de janeiro de 1959

Hoje, uma equipe de mais de 10 profissionais especializados trabalha diariamente na preservação e digitalização desse importante registro histórico, composto por mais de 2.400 caixas de documentos e 277 caixas de clippings impressos; cerca de 70 mil ampliações fotográficas, 61 mil cromos e negativos e mais de 300 mil arquivos digitais; mais de 15 mil pastas de dossiês de artistas e uma biblioteca com cerca de 40 mil volumes. O Arquivo Bienal é tombado em duas instâncias – em 1993, pelo Condephaat, e, em 2017, pelo Conpresp – como bem cultural de interesse histórico, devido ao conteúdo de seu acervo. 

O suporte do Programa Municipal de Apoio a Projetos Culturais (PROMAC) 2020 da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, que tem como objetivos apoiar e reconhecer ações culturais e proteger o patrimônio material e imaterial de São Paulo, é fundamental para a manutenção do Arquivo Bienal. Para difundir alguns de seus conteúdos, temos compartilhado mensalmente, no nosso Instagram, algumas imagens e histórias salvaguardadas pelo Arquivo. Agora, aprofundamos aqui a parte 1 em torno de quatro desses documentos que se referem a importantes nomes da arte contemporânea brasileira e mundial. A parte 2, com mais 5 artistas está aqui. 



Edvard Munch 




Considerado um dos precursores do expressionismo alemão, o pintor e gravurista norueguês Edvard Munch (1863-1944) participou de três edições da Bienal de São Paulo: 2ª (1953-1954), 23ª (1996) e 24ª (1998). Ao pesquisar no Banco de Dados do Arquivo Bienal, encontramos mais de 112 resultados de registros de imagens (negativos, vistas de exposição, referências fotográficas) e cerca de 350 diferentes tipos de documentos, entre eles catálogos de exposição, livros, artigos, cartas, contratos de importação de obras, entre outros. Todos os catálogos das Bienais de São Paulo estão disponíveis em bienal.org.br na página bienal a bienal e são importantes fontes de memória das histórias das Bienais de São Paulo. 

A 2ª Bienal de São Paulo, conhecida por ter trazido pela primeira vez ao Brasil Guernica (1937), a famosa obra de Pablo Picasso, foi realizada pelo MAM-SP, que tinha como  presidente Ciccillo Matarazzo. Composta por representações nacionais de mais de 30 países, na sala da Noruega estava Edvard Munch, ao lado de mais 8 artistas. No catálogo da exposição, você encontra uma biografia do pintor e o nome de todas as obras e gravuras que foram expostas na Bienal. 

Quase 40 anos depois, Edvard Munch volta a integrar a lista de artistas da Bienal de São Paulo. Durante a 23ª edição (1996), o artista ganha uma Sala Especial, dedicada ao “existencialista nourueguês na arte contemporânea”. Veja imagens de obras do artista aqui. Um ano depois, Munch também foi homenageado no Núcleo Histórico da 24ª Bienal de São Paulo, ao lado de outros artistas do século 19, como Rodin e Goya. Com curadoria de Paulo Herkenhoff, todo material sobre essa edição está disponível  aqui.

Confira o post no Instagram da Bienal sobre o artista aqui



Carybé



A fundadora do Arquivo Bienal, Wanda Svevo, mandava, a importantes artistas da época, fichas cadastrais como a imagem acima com o objetivo de criar dossiês dos participantes. Eles as preenchiam com um retrato 3x4 e informações sobre suas trajetórias artísticas; em muitos casos, também mandavam documentos à parte como recorte de jornais, catálogos, fotos de obras, portfólio

Dentre as 15 mil pastas de dossiês de artistas disponíveis no Arquivo, uma é do artista Hector Bernabó (1911–1997), conhecido como Carybé. O pintor, gravador, desenhista, ilustrador, mosaicista, ceramista, entalhador e muralista também teve um papel importante na imprensa brasileira: em 1946, auxiliou a montagem do jornal Diário Carioca e, entre 1949 e 1950, trabalhou no jornal Tribuna da Imprensa a convite do jornalista Carlos Lacerda (1914–1977). 

Carybé foi uma figura essencial no movimento de renovação das artes plásticas na Bahia. O artista, naturalizado brasileiro em 1957, também é conhecido por suas ilustrações nos livros de Gabriel García Márquez (1928–2014), Jorge Amado (1912–2001) e Pierre Verger (1902–1996), entre outros. Carybé participou de nada menos do que 8 edições da Bienal de São Paulo, incluindo uma Sala Especial dedicada a ele na 6ª Bienal (1961).

Na sua participação na 11ª Bienal de São Paulo (1971), apresentou 20 pinturas a óleo. O catálogo da edição relembra uma citação de Jorge Amado sobre o artista: “baiano das sete portas, filho bem amado da cidade de Salvador, seu criador e pai, e seu filho e terno amigo, Carybé está espalhado nas águas da Bahia de todos os santos, nos limites do recôncavo e das terras de aioka (…)”.

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Rubem Valentim



Na 23ª Bienal de São Paulo, o artista baiano Rubem Valentim (1922‐1991) teve uma sala especial dedicada à sua obra. “Com Valentim, a cultura negra no Brasil chega integralmente com seu sentido espiritual à arte. Chega sem intermediações estilísticas e negociações políticas que renunciassem à identidade”, afirma Paulo Herkenhoff no catálogo da edição sobre a importância do trabalho do artista. 

Em seus trabalhos, Valentim se apropria da linguagem da abstração geométrica para construir complexas composições, recortes e justaposições, usando cores fortes e vibrantes. O artista também incorpora, em suas esculturas e pinturas, emblemas e signos do candomblé e da umbanda, entre eles a flecha de Oxóssi, o machado duplo de Xangô e as hastes de Ossain (ou Ossanha). 

O artista baiano tem uma longa história com a Bienal de São Paulo e participou de nove edições: 3ª (1955); 5ª (1959); 6ª (1961); 7ª (1963); 9ª (1967); 10ª (1969); 12ª (1973); 14ª (1977); 23ª (1996); além das exposições Bienal Nacional (1976); Tradição e Ruptura: Síntese de Arte e Cultura Brasileiras (1984); Bienal Brasil Século XX (1994); e 30 × Bienal – Transformações na arte brasileira da 1ª à 30ª edição (2013). O pintor, escultor e gravador foi uma figura fundamental na consolidação da arte afro-brasileira.

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Jackson Pollock



No Arquivo, encontramos várias fichas como a da imagem acima. Era um sistema de catalogação muito comum nas primeiras edições das Bienais que consistia em um cartão com as informações essenciais para a catalogação das imagens. Em algumas edições, essas fichas chegaram até mesmo a ser reaproveitadas: a edição original da Bienal, impressa no papel, era riscada e, sobre ela, alguém escrevia, em caneta, a nova edição a que se referia. 

Na ocasião da 4ª Bienal de São Paulo (1957), o Brasil foi o primeiro país a receber uma retrospectiva póstuma do norte-americano Jackson Pollock(1912-1956). O artista representou os Estados Unidos na edição com cerca de 60 obras. No catálogo, você encontra um texto sobre a Sala Especial dedicada aos Estados Unidos de Frank O’Hara, um importante poeta norte-americano e então responsável pelo Programa Internacional do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). 

“Parece-nos de todo oportuna a ideia da delegação dos Estados Unidos na IV Bienal apresentar a obra de Jackson Pollock de forma mais completa e ampla. Nos dez anos que precederam a sua morte, ocorrida em 1956, suas inovações formais e técnicas e a originalidade de suas concepções espaciais tornaram-no conhecido como um dos pintores de maior projeção nos Estados Unidos. (...) Para muitos, Pollock representa o próprio espírito de lirismo aventureiro e de descoberta formal, tão intimamente ligados à pintura norte-americana mais recente.”

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